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UM DEFENSOR DO RICO, OUTRO DO POBRE

Na região fisiográfica do Maciço da Serra do Teixeira, Estado da Paraíba, em que se encontra o ponto culminante da Paraíba – Pico do Jabre, no Município de Maturéia/PB – ali a seca é uma regra como o é aquém dali por se tratar de micro e mesorregiões respectivamente circunscritas pelo alto sertão paraibano.
                          No triênio 1993 – 1995, ali a seca foi aguda a ponto de alguns pomares de cajueiros terem sucumbido à falta d’água no subsolo, o que, em conseqüência, fez fechar a ASFRUTA-Associação de Fruticultores à qual se encontrava vinculada uma indústria de beneficiamento de castanha de caju.
                          A seca inclemente fez que o rebanho bovino comesse tronco de agave como ração, a exemplo do que fazem alguns criadores de gado na mantença do rebanho dando-lhe no cocho o pseudo-caule da bananeira picado.
                          Na cidade de Teixeira, a água para consumo humano chegava em carros-pipas. Havia um poço amazonas na cidade, única fonte onde se podiam comprar ancoretas ou tonéis d’água conduzidos em carroças puxadas por jericos. O Açude da Bastiana, que era o reservatório de abastecimento daquela cidade, baixara ao nível crítico de não mais ser possível correr águas na adutora que fazia o abastecimento da urbe!
                          Diante desse quadro a sustentabilidade da região em termos de sobrevivência era dada por programas emergenciais (Frentes de Emergências); pelos poucos empregos públicos ali existentes e pela Previdência Social.
                          A Previdência é tão presente naquela região que até algumas crianças de pouco saber e pouco falar, mas sabem falar em “aposentadura”, “aposentos” ou “aposentadoria” p’ra se referirem ao dinheiro que seus pais ou os avós recebem no fim de cada mês. Todavia, há de se ressaltar, que se o sertanejo não é de todo um forte naquelas circunstâncias, mas certamente não é tão triste como querem alguns críticos: nos finais de semana – no intervalo da sexta-feira para o domingo – o forró é de lascar! E, toda festa é bem vinda. A fé, essa coisa única e exclusiva na cabeça de cada um, ali é sempre presente. É como se todos se unissem no infortúnio para se tornarem fortes até que chegue a chuva do Céu, quando cada um toma o caminho da roça, e bate pé, e diz que o Sertão é a melhor terra do mundo!
                          Mas com a seca há um fluxo de passageiros saindo da Serra do Teixeira a caminho do Leste e Sul do Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo), pelas empresas São Geraldo, Itapemirim e Göntijo, e também fazendo o percurso de volta. Há um aspecto, porém, que é de se observar com certa curiosidade: por vezes, em conversas a respeito de que tantos sertanejos conhecem Rio e São Paulo, descobrimos dentre esses quase ciganos viajores alguns que sequer conhecem Campina Grande ou João Pessoa, na Paraíba. Há também os que tomam para si a expressão cantada e decantada pelo cancioneiro popular: “Só deixo meu Cariri no último pau-de-arara”. É o verso e o reverso do Sertão!
                          Naquele ano ido de 1995 houve um saque na feira livre de Teixeira-PB, quando este autor fora ali domiciliado. Havia o Sr. Olavo, um comerciante da cidade de Maturéia-PB, com um banco sob toldo instalado naquela feira, que costumeiramente se fazia depositário dos pisquáios que lhes eram comprados por sua clientela pobre.
                          Por ocasião do saque esses pobres ficaram desprovidos do que compraram com seus parcos recursos, em razão do que procuraram o Promotor de Justiça para receberem o valor do que lhes fora saqueado. O rico comerciante logo contratou os serviços dum advogado da Comarca de Teixeira. Eis que em defesa do comerciante o seu defensor disse ao Promotor – Dr. Hermógenes Braz dos Santos – que seu constituinte também perdera R$ 10.000,00 (dez mil reais) de mercadoria, ao que o Dr. Hermógenes pediu-lhe “notas fiscais” como prova documental, mas aquele advogado não as tinha em mãos, para fazer provas ao Ministério Público, com vistas ao deslinde da questão. O comerciante perdeu naquele foro, ficando de pagar 50% (cinqüenta por cento) naquele momento e, o restante nos sete (7) dias seguintes, ou seja, na próxima feira pós-saque.
            Este autor, que morava numa mesma casa – bendita “república” –   com o Escrevente e o sobredito Advogado, comentou com este: “Sua defesa pareceu com o artifício do indivíduo que queria beber (e bebeu), sem dinheiro, quando pediu numa bodega uma cocada e, após, pediu que a dona da bodega trocasse a cocada por uma dose de cachaça, argumentando depois que bebera e, lhe fora cobrado: troquei uma cocada pela cachaça! Nada comprei. Se furtando ao pagamento do que bebera!”
José Guedes