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Hoje é um daqueles dias verdadeiramente triste.
Hoje se foi um colega e amigo de longa data, desde os idos de escola.

Para mim, foi o oficial de justiça mais bem preparado em certificar as diligências com base legal. Até hoje algumas das minhas certidões mais rebuscadas, sigo os modelos das dele, referências, notas de rodapé. Para uns parecia tolice, algo desnecessário para ele não, sempre muito zeloso. Suas certidões deveriam servir de modelo para toda categoria.
Eduardo trabalhou até não suportar mais.

Vicente

José Vicente

Humilhações, penso que nesses 20 anos de profissão, passou por muitas, sejam das partes ou mesmo do nosso ente patronal, sofremos muitas. Saber driblar ambos é uma virtude nossa, que aprendemos ao longo e no exercício da função. Porém há dias que perdemos para nós mesmos.
Somos jogados à própria sorte, vamos sozinhos todos os dias ao encontro da morte, quem achar que não, é porque não conhece a realidade nua e crua das ruas, de tentar encontrar alguém, sem saber ao certo quem, um assassino cruel, um réu traficante ou algum pedante filho de ricaço, louco de pó ou loucos de dar dó, gente sã sem esperança, sem nada a perder, quem sabe? Ninguém, nem nós. Ver de perto a pobreza todos os dias, não nos deixa obtusos ou alheios a dor de outrem, talvez nos torne mais humanos, mais sensíveis e fortes, cada um de nós lida com essas mazelas de maneiras diferentes.

Quem de nós não se questionou ao chegar em casa e ver a pobreza de perto ou a dificuldade de internar um ente querido ou mesmo soltar um bandido contumaz aplicada aos amigos da lei? Cada mente é um mundo, cada um vê mais profundo o bem e o mal, e nesse existencial de fazer valer a lei, cumprir o mandado da forma mais justa possível, mesmo nós ali estando, olhando a realidade que nas folhas em branco não se vê naturalmente, cumprir, o que se visto de fato pelos olhos do “longa manus” seria uma injusta, causa-nos danos irreparáveis, essa “justiça” praticada injustamente.

Na eterna batalha do bem contra o mal, da mente sã a mente vã, Eduardo perdeu, se foi abruptamente, não suportou seu fardo.

Não há culpados, não há vencidos, tão poucos derrotados.
Todos nós devemos olhar para nosso interior e nos perguntar se devemos questionar nossos erros, ficar inerte, passivo, aceitar sem questionar, sem brigar pelo justo e correto, sem chorar nossa dor, sem sentir o pesar da dor alheia.

Buscar em Deus força para levar nosso fardo e garra para lutar uma batalha mesmo que aparentemente perdida, podemos desanimar, mas jamais desistir, devemos levantar a cabeça e seguir. Eduardo não conseguiu, ficou pelo caminho, deixou em mim um legado, a melhor certidão entre todos os oficiais de justiça que conheci e li, sujeito de um conhecimento profundo da prática jurídica do direito e das ruas, deixa comigo essa lição e esse exemplo a ser seguido por todos, não importa as humilhações do patrão, faça seu melhor sempre! E Eduardo fez, até o dia que não suportou mais e partiu…

Dedicado ao meu amigo e colega Eduardo Chagas.

Texto de José Vicente.